FLEXIBILIDADE COMPORTAMENTAL
Texto: Valéria Lemos Palazzo
“Seja flexível como o bambu, que quando o vento bate cede, e não rígido como o carvalho, que quando o vento bate quebra. ”
As suas ideias e crenças dirigem sua vida. São elas que dão o enfoque nas coisas e pessoas. No entanto existe uma série de enfoques que podem nos levar na direção errada. Os mais comuns são: foco no problema, no passado e no futuro.
Começando pelo “foco no problema”: Quanto mais você mantém o foco no problema, mais longe das soluções. O seu enfoque tem que ser na solução e não no problema. Lembre-se que tudo que você der importância vai aumentar. Então se você foca o problema ele tende a aumentar. Quando na verdade o que você quer que “aumente” são as soluções.
O Foco no “passado”: Toda vez que você se “prende” com nostalgia ao passado, naquela “época da sua vida”, você está dizendo para si mesmo que a “felicidade” estava ali. E só ali. Imagine que a sua felicidade estava ali, no seu passado, que “já foi”. O que isto faz com você? Cria angústia porque se a “verdadeira” felicidade estava ali naquela época, ela não se repetirá, isso significa que você não terá mais oportunidade de ser feliz, a não ser que “permaneça” naquela época.
Já o foco no “futuro” é baseado na expressão: “Quando…”. Este tipo de comportamento é o responsável pela ansiedade, pelos medos e pelo pensamento catastrófico. Enquanto você insistir em manter este enfoque na sua vida vai permanecer “parada”. Este tipo de conduta faz com que você “ensaie” a vida, mas não “viva” a vida.
O problema do enfoque “errado” é ficar “preso” a uma única visão, um modelo, um passado, uma fase da sua vida e/ou um único ponto de vista, e tudo que for diferente daquilo é visto como “ruim”. Muitas vezes você acredita que você é o “errado”. O “erro” está em você ou na sua vida, quando na verdade o que está “errado” é o seu enfoque.
Porque você não muda os seus enfoques?
Por será que é tão difícil adotar novas posturas mesmo sabendo que seria o melhor para nós?
Porque mudar é “difícil”, “mudar dói”, “mudar é caminhar para o desconhecido”. “Se aqui até que não está ‘mau’ porque preciso mudar? ”. Todas estas crenças estão presentes em quem tem dificuldade de mudar. E se as mudanças se mostrarem ameaçadora demais, você terá uma tendência em resistir. Pelo contrário, se forem vistas como benéficas, a resistência é menor e o processo decorre com maior facilidade. O tamanho da oposição será tanto maior quanto maior for a mudança proposta
Se você não mudar as ideias/crenças não irá mudar as coisas que estão acontecendo na sua vida em consequência delas.
Você é uma pessoa “original”, repleta de soluções/crenças diferentes, desde que se permita usar um novo enfoque. O antigo precisa ser deixado (e isso dói) e o novo é algo a ser ainda alcançado (o que causa ansiedade).
O movimento de se “ampliar” (e crescer é “ampliar”), é o verdadeiro processo de evolução. Não fique preso em um único ponto de vista, uma época da sua vida. Ela é apenas o que a própria palavra diz, uma época, uma fase, ela não é a sua vida.
A sua vida já teve, tem e terá muitas fases. As mudanças exigem de nós muita flexibilidade: durante as mudanças o velho e o novo convivem, o que cria confusão, instabilidades, novas prioridades, desestruturação. Quem já fez uma reforma em sua casa morando dentro dela sabe o que é isso. O estado de transição entre o velho que está indo embora e o novo que ainda não chegou costuma ser bastante perturbador. Nestes momentos a rigidez pode ser a sua característica mais prejudicial. A rigidez é a mais prejudicial característica do ser humano.
Você sabe qual é o conceito básico do judô?
“Ceder” para vencer. Esse conceito surgiu da observação da neve caindo nas arvores. Um sábio observou que a neve que caia nas arvores, ia se acumulando nos galhos rígidos até que o peso da neve fosse tanto que o galho rígido se quebrava. Por outro lado, ele percebeu que isto não acontecia com todas as arvores, havia espécies onde a neve se acumulava nos galhos, porém, por serem eles flexíveis, quando a neve “pesava”, eles se “curvavam”, a neve caia, e eles voltavam “inteiros” ao lugar.
Também existe um provérbio chinês que diz: “Quando o vento sopra o bambu cede”. Ele nunca resiste; cede, dobra-se acompanhando o fluir natural do vento sem nunca se quebrar. O vento representa o ruim da vida, as más notícias, as rejeições, os relacionamentos casuais e vazios, os acontecimentos desagradáveis, as agressões externas, os problemas do cotidiano, enfim, toda forma de ação ou informação, e que de uma forma ou de outra, possam nos afetar e machucar. O bambu por sua vez, está associado à ideia da flexibilidade.
Por que então, você não “cede” a novos enfoques?
Muitas vezes você “quebra”, por não ser flexível, por não adotar uma mudança de “foco”, fica preso nos velhos padrões de comportamento, se apegando em velhas ideias, ao passado. Ou “esperando” o futuro. Isto não é ser funcional. Ser funcional é “ampliar”. Ampliar o modo de agir, o modo de pensar, o modo de “ser”.
Quanto mais enfoques diferentes você for capaz de adotar, sem permanecer em padrões rígidos, mais você se torna “perceptivo”. O que faz com que você perceba a si mesmo.
Você só pode sentir aquilo que é percebido por você. O “mundo” só existe para você quando você o percebe. Se você se prende ao passado, ou “fantasia” o futuro, não é capaz de perceber o presente.
Você já ouviu alguém usar o termo “tapado” para se referir a uma pessoa que não é capaz de “perceber” certas coisas?
Aqui no Brasil também se chama de tapa o pano com que se vendam os olhos do burro pouco manso, para que se deixe arriar. O que não nos damos conta é que também colocamos uma “tapa”, como se faz ao burro, para nos deixarmos ficar “arreados e mansos”.
Também nos encontramos “tapados e fechados” para uma série de situações na nossa vida. Vamos-nos deixando… “Tapando” a nossa consciência. E com isso atrofiamos uma série de qualidades que existem em nós.
Permanecemos não totalmente “vivos” para a vida.
Empobrecermo-nos de vida…
Autoria do texto:
Valéria Lemos Palazzo – Psicóloga e Neuropsicóloga
Idealizadora, Criadora e Coordenadora do GATDA – Grupo de Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares, da Ansiedade e de Humor