Quase todas as pessoas já tiveram seus momentos de exagero em relação a alimentação, em algum ponto de suas vidas – seja para conter o tédio, eliminar a tensão ou para mascarar sentimentos de solidão. Infelizmente, para alguns, comer em excesso é uma compulsão que não ocorre apenas uma vez, ou em uma determinada ocasião, mas ela se torna praticamente um padrão, repetido diária ou quase que diariamente, e que afeta todos os aspectos da vida do indivíduo, causando tensão indevida e lutas com suas emoções. Muitos sofrem com a dificuldade de parar com a vontade incessante de comer, comem tanto que sentem-se terríveis em relação a si mesmos e, em seguida, passam por episódios de purgação como um esforço para conter ou amenizar os efeitos da compulsão. Isso se torna um ciclo vicioso conhecido como bulimia.
Bulimia, portanto, é um transtorno alimentar que pode ser caracterizado por períodos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos e métodos compensatórios, em um esforço para evitar o ganho de peso. Tanto homens e mulheres são ambas afetadas por este distúrbio alimentar.
Pessoas que sofrem de bulimia irão comer excessivamente grandes quantidades de alimentos, muitas vezes consumindo 4000 a 5000 calorias em um período muito curto de tempo. A vergonha resultante que vem depois de uma compulsão leva a sentimentos de ansiedade e pânico que levam a pessoa a se concentrar fortemente em purgar a comida, ela pode se exercitar excessivamente, forçar-se a vomitar ou tomar quantidades excessivas de diuréticos ou outros laxantes para ajudar a promover a liberação dos alimentos.
Na sua maioria os pacientes com bulimia estão dentro da faixa de peso normal, embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo deste. Existem indicações de que antes do início do transtorno alimentar, os pacientes com bulimia estão mais propensos ao excesso de peso.
A bulimia apresenta uma prevalência no sexo feminino, 90 a 95%. A doença se manifesta mais tarde do que na anorexia, por volta dos 18 a 20 anos
Os episódios de compulsão consistem no consumo de uma grande quantidade de alimentos frequentemente ricos em calorias. Os tipos de alimentos variam, mas geralmente são ricos em gordura e/ou açúcar. Os episódios de compulsão alimentar ocorrem em segredo, por isso raramente são presenciados por outras pessoas. Alguns destes episódios são previamente planejados, mas geralmente ocorrem de forma impulsiva. Entre os episódios compulsivos, os pacientes restringem seu consumo calórico total e selecionam preferencialmente alimentos com baixas calorias, evitando alimentos que percebem como “engordativos”. O “gatilho” das compulsões na bulimia, pode incluir depressão, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, aborrecimentos, dietas restritivas e/ou prolongadas, e insatisfação e/ou distorção da imagem corporal.
A compulsão alimentar “camufla” temporariamente os sentimentos negativos, mas este estado é rapidamente seguido por sentimento de culpa. A pessoa com bulimia sente vergonha dos seus ataques de compulsão (binge), e entende seu comportamento como uma falta de controle, o que é uma das razões para a baixa autoestima: “Existe alguma coisa “errada” comigo, sou “imperfeita”, porque não consigo me controlar”. É difícil para alguém que se sinta desta forma procurar ajuda. Daí o prazo, e a demora de até dez anos, para que uma pessoa que sofra de bulimia busque ajuda.
Os comportamentos compensatórios são uma forma de “conter” os efeitos (o aumento de peso) das crises de compulsão. O comportamento compensatório mais comum são os vômitos. Na bulimia os vômitos são provocados seguidamente aos episódios de compulsão. Os vômitos autoinduzidos representam o comportamento compensatório mais comumente utilizado pelos pacientes que sofrem de bulimia. Os vômitos são provocados seguidamente aos episódios de compulsão. Alguns pacientes podem chegar a vomitar até 20 vezes por dia. Os vômitos se tornam tão “comuns” que pacientes se tornam capazes de vomitar quando querem. O ato de purgar reduz temporariamente o desconforto físico causado pela sensação de “estufamento” gástrico, além de amenizar o medo de ganhar peso pelas crises compulsões. Algumas podem até mesmo ansiar pelo comportamento purgativo da mesma forma que apreciam a sensação de “libertação” que este comportamento temporariamente oferece. Outros comportamentos compensatórios utilizados para “prevenir” o ganho de peso são o uso abusivo de laxantes, diuréticos, dietas restritivas, jejuns, medicamentos e “fórmulas” anorexígenos, e a prática exagerada de exercícios. A “necessidade” de se exercitar chega a interferir de modo significativo nas atividades pessoais e profissionais da pessoa. O paciente pode dar preferência a pratica de atividade física em detrimento de encontros sociais e/ou profissionais.
As pessoas com bulimia semelhantes as anoréxicas, estão envolvidas de forma obsessiva com a forma e peso dos seus corpos. Uma pessoa com bulimia poderá checar seu peso e forma de maneira obsessiva. Esta “checagem” pode se manifestar através de pesagens frequentes (várias vezes ao dia), observação de si mesmas no espelho, e medição de várias partes do corpo com fitas métricas ou com as próprias mãos. Para as bulimias, a autoestima está diretamente vinculada ao seu peso e forma corporal.
As complicações médicas mais comuns da bulimia incluem arritmias cardíacas, sangramentos do esôfago, distúrbios eletrolíticos, problemas gastrintestinais e dentais. As complicações médicas da bulimia podem ser tão severas quanto as da anorexia. Da mesma forma que a anorexia, a bulimia pode levar à morte, se não tratada de maneira adequada.
Como o GATDA trata a bulimia ?
Se você acha que pode ter bulimia, a melhor coisa que você pode fazer é procurar ajuda profissional. Aconselhamento e psicoterapia são oferecidos para aqueles que sofrem desta condição para ajudá-los a recuperar o controle sobre seus pensamentos e ações. A terapia comportamental funciona muito bem no tratamento de distúrbios alimentares, tais como bulimia. Durante este tipo de tratamento, um psicólogo especializado em transtornos alimentares irá trabalhar com você para ajudá-lo a aprender a reconhecer as formas com que o alimento faz você se sentir e como mudar seus comportamentos em resposta a essas emoções.
Admitir que você tem um problema é o primeiro passo para obter tratamento. Procure ajuda profissional. O aconselhamento e apoio que receberá poderá mudar sua vida.
Autoria do texto:
Valéria Lemos Palazzo – Psicóloga e Neuropsicóloga
Idealizadora, Criadora e Coordenadora do GATDA – Grupo de Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares, da Ansiedade e de Humor